quinta-feira, 29 de outubro de 2015

História: Dante, a minhoca bandeirante

Não sei se vocês sabem mas, nós – as minhocas – somos todas iguais: adoramos passear e cavar túneis, mas detestamos anzol, bico de passarinho, claridade e queimadura de sol.
Por essa razão não saímos do meio da terra e vivemos sempre escondidinhas e no escurinho. Sou a única minhoca que acha tudo isso muito entediante!
Meu nome é Dante, tenho nove anos, moro com a minha família no subsolo da horta do Seu Geraldo – que mora numa fazenda – e estou sempre procurando alguma coisa emocionante pra fazer.
Já conheço o vaso da Glorinha – que é a filha do Seu Geraldo –, a toca do coelho, o formigueiro da saúva e escapei por pouco dos dentes do ancinho, do bico do pardal e do ferrão do besouro.
Por causa dos sustos que sempre levo, volto correndo pra casa mais branco do que já sou e, daí quando penso que nunca mais vou me aventurar outra vez, acontece alguma coisa que me faz mudar de ideia: — Agora, eu quero conhecer um bagre de perto!
Sim, eu sei que os bagres moram n’água, que a água é salgada e que nós, as minhocas, não vivemos n’água e que detestamos sal.
Sim, já fui ao Museu de História Natural e vi o fóssil do maior engolidor de minhocas que já existiu: o Grande Bagre Bigodudo. E, sim, eu também sei que os bagres são nossos inimigos naturais.
Sei que vivemos no mundo marrom e que o mundo azul dos bagres é muito diferente do nosso: ele é feito d’água – como aquela do regador do Seu Geraldo – e, que se chama mar, que é preciso muitos regadores pra enchê-lo e, que além de enorme é salgado também.
Isso está ficando cada vez melhor: quanto mais preto é o quadro, mais eu fico com vontade de conhecer um bagre ao vivo!
— Vou levar todos para o mundo azul e assim poderem ver um bagre junto comigo.
Falo sobre isso a toda hora e pra todo mundo, mas o único que me leva a sério é o meu amigo siri.
Ele veio até o Minhocal me contar que a notícia já se espalhou e que no seu mundo amarelo – que se chama praia –, já rola até aposta. Eu estou perdendo feio, pois ninguém acredita que eu vá tão longe.
Eu não tenho ideia de como ir até o mar, mas pensei em trazer o mar até nós: é só cavar um pouquinho mais além do mundo amarelo, usando o mesmo túnel que o siri cavou para vir até aqui. Simples e prático! Metade do serviço já está feito.
Foi fácil partir do Museu de História Natural e fazer a entrada do túnel ficar ao lado do fóssil do Grande Bagre Bigodudo: eu e o siri somos grandes cavadores.
E, como ninguém presta muita atenção em nós e nem no que fazemos, não perceberam o que estava para acontecer, até que já tinha acontecido: o túnel chegou ao mar e a água entrou por ele com tudo e com um bagre de presente.
Foi uma correria! Os Bombeiros, a Guarda Civil e o Esquadrão Anti-Bombas foram os primeiros a chegar.
— São terroristas!
— Saiam do Museu.
— É um Bagre Assassino!
A água entrou pelo túnel com tanta força que quase arrebentou o pote vazio que colocamos na entrada dele. O desastre só não foi maior porque todos correram pra escorar as paredes do Museu.
Quando a confusão passou, descobriram que o pote de vidro vazio tinha virado um baita aquário e que além do mais, já estava com um bagre dentro, e que por sinal, estava se divertindo muito e achando graça naquilo tudo.
Junto com ele, mas dentro de uma pet – que veio junto com a enxurrada –, eu e o siri estávamos boiando e não demorou muito para se formar uma fila de minhocas que queriam ser as primeiras a navegarem até o mundo azul dos bagres!
A primeira viagem foi um sucesso e o Museu já está pensando em cobrar uma taxa pra ajudar na manutenção do – que chamam agora –, Metrô Aquático.
Atualmente, várias pets saem todo dia do mundo marrom das minhocas, passam pelo mundo amarelo dos caranguejos, guarda-sóis, petecas e conchinhas e chegam ao mundo azul das guelras, escamas, corais, ostras, polvos e dos bagres bigodudos.
As minhocas seguem sequinhas dentro das garrafas, e do lado de fora os siris controlam a direção.


Todo o minhocal passou a adorar uma viagem e, já estamos pensando em conhecer o mundo verde das árvores, flores, matas e florestas.
As minhocas estão tão mudadas e moderninhas!
Se um dia você vir alguma de nós numa bolha de sabão ou flutuando numa bexiga pelo ar, não se surpreenda, sou eu – ou algum amigo meu – desbravando novos mundos, além do nosso.
O mais legal, é que agora reciclamos todo o material descartável que aparece perto do minhocal, pois aprendemos a usar tudo quanto é tipo de sucata pra construir uma porção de veículos de exploração e de viagens! Fizemos até uns enfeites para o jardim da Glorinha. Deixamos aqui para vocês algumas das nossas invenções. Podem copiar.
Somos todas minhocas bandeirantes: eu e meus amigos! Viajem com a gente.

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