quarta-feira, 7 de outubro de 2015

História: Cheirobom


Meu nome é Nestor, tenho doze anos e sou o ajudante do Seu Vassourinha, o inventor.
Nós passamos o dia todo desenhando e tendo uma porção de ideias novas:

  • diário secreto invisível: à prova de curiosos (o difícil é encontrá-lo);
  • lápis que desenha sozinho: só para inventores (para aqueles dias em que estamos sem ideia);
  • mochila da hora: te leva pra qualquer lugar (me lembre de consertar o zíper, pois demorei uma hora pra sair de dentro dela da última vez. Daí eu fiquei pensando, será que é “da hora“ porque é legal ou porque levei uma hora para escapar? Deixa pra lá).
Moramos em Cheirobom, que tem esse nome por causa de uma invenção nossa: o Aspiradordohorror, que é um robô com nariz de aspirador que pega todas as porcarias que existem no mundo como lixo, sucata e micróbio (até imundície), fedentina, entulho, pó, fudum e chulé. Mastiga tudo e põe pra fora soltando puns cheirosos.
O Seu Vassourinha gosta de dizer que ele trata a sujeira e emite ar puro com aromas variados por uma cavidade posterior.
Que seja! O importante é que depois que ele começou a funcionar, a cidade nunca mais foi a mesma e todo dia ela acorda com um cheiro diferente: de roupa lavada, sabonete de jasmim, gelatina sabor framboesa, chocolate quente para noites de frio, caderno novo e bolo que saiu do forno.
E assim, ela mudou o seu nome para Cheirobom!
O Aspiradordohorror funciona o ano todo, durante vinte e quatro horas por dia.
Como ele faz tudo sozinho, não sabemos mais o que é sujeira ou poluição e não nos preocupamos mais com isso.
Mas, justamente no dia em que o Seu Vassourinha tinha ido à Convenção Anual dos Inventores em Águalimpa, recebo uma ligação avisando que o Aspiradordohorror tinha quebrado.
Tentei de tudo para trazê-lo de volta à vida: desatarrachei o nariz de aspirador, tirei o braço direito de vassoura e o esquerdo de pá-de-lixo; ajustei a barriga de balde no lugar certo, mas nada disso adiantou. Pus tudo de volta e dei a notícia à cidade.
Enquanto isso, coloquei o Aspiradordohorror sentado num canto e voltei a catalogar as novas invenções:

  • sapato rolante: ótimo para economizar sola (só que desliza que nem sabão na cozinha molhada, por isso é bom amarrar um travesseiro na cintura sempre que for usá-lo);
  • botão falante: boa companhia quando estamos sozinhos (fiquei com dor de cabeça até que aprendi que desabotoando eles ficam quietos).
Enquanto trabalhava, não parava de pensar que não tinha motivo para o Aspiradordohorror ter pifado: estava tudo certinho, nada desligado e a bateria era nova.
— Ah! Ele deve ter cansado de fazer sempre a mesma coisa todo santo dia: limpar, limpar e limpar.
Pensando assim, tirei a vassoura, o balde e a pá-de-lixo e no lugar deles, coloquei uma caneta, um caderno e um celular.
— Vou ensiná-lo a fazer a lição de casa, atender as ligações e secretariar o Seu Vassourinha. Sobrará mais tempo para eu jogar no computador e comer pipoca em frente à TV.
Apertei o botão onde estava escrito: INICIAR; dei um tranco e rezei para que funcionasse.
No início, ele não se mexeu. Quando pensei que nada iria acontecer: ele emitiu um chiado, acendeu todas as luzes e deu um passo à frente. Em seguida: parou novamente.
Daí, eu explodi:
— Robô burro!
O Aspiradordohorror pareceu que não gostou, pois mexeu todas as juntas de uma vez só (era como se tivesse levado um choque), abriu os olhos (acendeu as luzinhas da cabeça) e, com a caneta – que estava em uma de suas mãos –, escreveu no caderno, que estava na outra:
— Burro é a vovozinha!
Dessa vez, quem ficou com cara de bobo, fui eu: — Você ouviu tudo o que eu disse? Você já é um robô ensinado! E entende tudo o que a gente diz…
Nessa hora, descobri que aquele robozinho sabia muito mais do que todos supunham.
Ele escreveu que só não conseguia falar, porque o Seu Vassourinha não havia colocado um alto-falante dentro dele. Contou que muitas vezes tentara escrever na poeira do chão, na terra e com um tijolo no cimento, mas que ninguém lhe dava atenção.
— Todos sempre passavam por mim como se eu não existisse e, então, resolvi parar de funcionar pra ver se me olhavam. Mas, simplesmente pensaram que eu estava quebrado e me devolveram pra vocês. Eu queria trocar ideias e mostrar tudo o que eu posso aprender e fazer. Queria me divertir como todo mundo e fazer parte da turma.
— Puxa! Mas isso é muito legal! — eu disse. — Fico muito sozinho aqui no laboratório a tarde toda. Vamos ser grandes amigos! Você me ensina Matemática, Informática e novidades da computação e eu te falo sobre coisas de pré-adolescentes e te mostro os melhores lugares da cidade. Você vai fazer parte da turma.
Coloquei o alto-falante que estava faltando: e conversamos a tarde toda.
Não quis falar nada pra não ofendê-lo, mas tanto tempo sozinho não deve ter feito bem pra cabeça, pois encontrei guardado dentro da sua barriga uma porção de pets vazios, barbantes, sacos plásticos, bandejas de isopor e outros materiais descartáveis que ele não reciclou: deixou tudo lá amontoado. Vai ver, o Aspiradordohorror já estava meio quebrado mesmo…
Ele percebeu a minha expressão, e disse: — Tudo isso pode parecer, mas não é lixo: vão virar umas invenções bem legais. Deixei tudo guardadinho porque nunca sobrava tempo – até hoje – para eu colocar as minhas ideias em prática.
E ele foi me mostrando tudo o que havia pensado durante aqueles anos todos.
O Aspiradordohorror veio parar no lugar certo mesmo! Ele é um verdadeiro inventor como eu e o Seu Vassourinha.
Quando este voltou à Cheirobom, nem precisamos pedir para deixar o Aspiradordohorror ficar no laboratório, pois na cidade, as faxineiras, os garis e os catadores de sucata não queriam nem pensar em perder os seus empregos e, o Prefeito e os empresários já tinham planos de usar material reciclável como base de uma economia sustentável. Já havia cartaz falando disso, na cidade inteira. Ele não era mais necesário como antes.
Sendo assim, o Aspiradordohorror virou o meu melhor amigo e o segundo melhor ajudante do Seu Vassourinha. O primeiro sou eu, é claro! rsrsrsrs
Olhem só – nas próximas postagens – algumas das nossas invenções depois que começamos a usar material descartável! Agora só fazemos brinquedos que se mexem, pulam, saltam, giram e balançam. É superlegal.

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