sábado, 4 de junho de 2016

História: Foi a Gota D'Água


Nasci no alto da montanha, num lugar bem geladinho.
Um dia, conheci o Sol e me derreti.
Quando percebi, estava descendo ladeira abaixo, me deixando levar pela pressa da corredeira.
E, foi desse jeito que cheguei aqui no vale da planície, no meu lar. Vivo aqui há muito tempo, feliz e rodeada de vida.
Eu navego e me infiltro. Me misturo, vou e volto. Estou em todos os lugares. Me envolvo com a terra, alimento as plantas e deixo os peixes nadarem em mim. Sou super-popular.
Todos me conhecem, me chamam, me querem: mato a sede, revigoro as energias, dou força e renovo a vida. Eu sou demais.
Estava assim, perdida em pensamentos, feliz da vida, quando vi uma borboleta sumir no céu, depois um besouro passar por mim e seguir para cima até desaparecer de vista. Então fui reparando nas abelhas que voavam, no gavião que plainava muito acima de tudo e, em todos os pássaros e insetos que com suas asas deixavam o chão e partiam para o alto e avante.
Nessa hora, um pensamento esquisito passou por mim e percebi claramente que eu também queria voar!
– Isso vai ser muito legal. Vou ver tudo de um novo ângulo, atravessar de um ponto a outro rapidinho, enxergar para além das montanhas, dar um vôo rasante e sentir o vento bater forte no peito. Que adrenalina, que super, que demais.
Saí pra contar a novidade.
O primeiro que eu encontrei, foi o jacaré, que abriu a boca e soltou uma gargalhada. Deixei ele pra lá: acho que não entendeu o que eu disse.
Daí, contei para o bicho-preguiça, que até entendeu a questão, mas demorou tanto pra responder, que eu desisti e fui falar com o tamanduá.
Ele parou de comer formiga, limpou o focinho, olhou pra mim, olhou pra cima e perguntou onde estavam as minhas asas.
Ah! Que detalhe insignificante. Se acham que eu vou desistir por causa disso, estão muito enganados. Tenho certeza de que voarei; é apenas uma questão de tempo.
Já fui sólida, agora sou líquida, quem sabe o que posso ser daqui a pouco? Tenho muito potencial, capacidade de adaptação, sou maleável e polivalente.
O único que assistia a tudo, impassível, distante e sem fazer piada, era o Sol. Parecia que ele sabia de alguma coisa e não queria me contar. Quando lhe falei dos meus planos, ele apenas sorriu e se apagou. Disse que era hora de dormir, me mandou seguir a correnteza e não me preocupar mais.
Não sei porque, mas aquilo me acalmou.
Segui o conselho do Sol, e me deixei levar: desci a ribanceira, virei cascata e cachoeira. Desaguei no mar e fiquei salgada.
Brinquei com os surfistas, dei caldos nos banhistas, fiz onda e espuminha.
Enquanto refrescava os nadadores, até me esqueci do meu sonho de voar. Estava suando tanto naquele dia e me sentia tão leve, que nem percebi o que estava acontecendo. Só me dei conta quando ouvi o Sol falar bem pertinho do meu ouvido:
– Veja o mar, a praia e o vale lá embaixo.
Eu estava voando! Era verdade, eu podia voar mesmo. Passei pela andorinha, um avião passou embaixo de mim, eu estava plainando no ar! Peguei a ponta da rabiola, dei voltas junto com o vento e falei de volta para o Sol:
– Como é bom evaporar! Eu preciso mostrar isso para os meus amigos.
Gritei para chamar a atenção do jacaré, do bicho-preguiça e do tamanduá. Eles estavam distantes, muito longe e não me ouviram.
Pedi para o Sol passar o recado e, pra variar, ele falou para eu não me preocupar.
Não sei porque, mas isso novamente me acalmou.


Ouvi o conselho do Sol e me deixei levar pelo vento. Segui o caminho das nuvens brancas: fui para um lado, fui para o outro, me transformei, me redesenhei e os meus sonhos se realizaram.
Estava feliz, satisfeita, mas sozinha: – Como seria bom rever os amigos! Que saudades eu sinto deles.
E, naquele dia sem sol, em que todo o céu estava triste, chorei muito quando passei por cima do meu vale. Gritei e trovejei demais: talvez assim eles me ouvissem.
Quando a tempestade passou, o mundo se acalmou e o Sol voltou; um arco-íris se formou. E, lá no seu final, estavam todos os meus amigos: o Sol, o tamanduá, o bicho-preguiça e o jacaré!
Eu estava de volta ao meu lar.
Mas, enquanto estava na praia, vi uma porção de brinquedos legais feitos com material descar†ável. Vejam alguns deles e faça você também.
Como é legal ser
água!