terça-feira, 1 de dezembro de 2015

História: Eu e o Papai Noel

 Oi, me chamo Carla, tenho 10 anos e há quatro anos atrás eu vi o Papai Noel! Não tenho certeza se ele é assim como aparece na televisão e nos Shoppings: bem velhinho, barbudo e fofo, mas que eu o vi, eu vi. Hoje ainda me lembro de tudo e, posso garantir que é verdade o que eu vou lhes contar.
Era noite de Natal e íamos de carro para a casa da vovó, quando a minha irmã me disse que o Papai Noel não existia.
Não dei atenção a ela, pois às vezes as irmãs mais velhas dizem muita bobagem, mas fiquei com aquilo na cabeça.
Naquela mesma noite – antes da ceia –, quando o tio Zeca entrou fantasiado com roupa vermelha, barba e bigode brancos (achando que ia enganar alguém) e, começou a distribuir presentes; eu comecei a ficar na dúvida se a minha irmã não falara a sério.
Mas, a ficha só caiu mesmo quando vi – na manhã seguinte – o papai comendo (e cuspindo) os biscoitos que eu havia deixado para o Papai Noel na noite anterior: eram de barro, mas se pareciam muito com brownies.
Durante todo o dia, eu fiquei muito triste e o vovô – que não é bobo nem nada –, veio me perguntar o por quê.
— Vem comigo – ele me disse – vamos à casa do verdadeiro Papai Noel.
— Vamos ao Pólo Norte?
Não, na verdade não fomos tão longe assim: fomos só até a casa do Seu Nonô, que ficava ao lado do nosso prédio. Não haviam renas, gnomos e nem uma fábrica mágica de brinquedos; ele não estava vestido de vermelho, não tinha gorro e nem perguntou se eu me comportei bem durante o ano. Não fez HÔ HÔ HÔ, nem era gordinho, mas pelo menos trabalhava como Papai Noel na lojinha da esquina nessa época do ano (ainda podíamos ver a sua roupa vermelha fora do armário).
— Aposto que você nunca desconfiou que era ele quem dava todos aqueles brinquedos pra creche da igreja, não é mesmo?
Era verdade, a casa do Seu Nonô era cheinha de brinquedos feitos de sucata!
Eu nunca havia entrado lá e também nunca havia visto tanto brinquedo junto na minha vida (só em loja de brinquedo – é claro – e na casa da minha prima mais rica de todas, a Taís).
Seu Nonô gostou de mim na mesma hora e, me ensinou a fazer um dos seus brinquedos favoritos: uma estrela de Natal a partir de uma pet vazia.
Logo depois me levou pra conhecer o resto da casa e, nos quartos havia tudo quanto é tipo de brinquedo – feito com material descartável – que podíamos imaginar. Eram lindos e muito legais: rodavam, pulavam, saltavam e mexiam conforme o jeito que o Seu Nonô os construía.
No quintal, ele armazenava – a céu aberto – o lixo reciclável necessário para a sua arte e, no canto direito – bem lá no fundo perto do muro – havia um barracão e, quando eu perguntei o que ele guardava ali, o Seu Nonô ficou mudo, pigarreou e me disse que eu nunca  – mas nunca mesmo – deveria entrar lá.
Eu bem que tentei pensar em outra coisa, mas os segredos me atraem… Além do mais, aquilo era um mistério e – como todo mundo sabe –, os mistérios existem para serem desvendados!
Mas como eu havia prometido não entrar no barracão, fiz a única coisa que poderia fazer naquelas circunstâncias: ficar com os olhos e ouvidos bem abertos, prestar atenção em tudo e começar a enumerar as pistas. PISTA Nº 1: barracão misterioso.
Durante o jantar, ouvi o vovô contar ao papai que o Seu Nonô estava querendo voltar ao seu país de origem – onde nevava e fazia frio o ano todo – e, que faria isso assim que terminasse de construir aquilo que estava dentro do barracão. PISTA Nº 2: construção misteriosa.
Não esperei até o dia seguinte: todos foram dormir e saí em seguida. Afinal, ele poderia terminar naquela noite e eu não teria outra chance de ver o que estava sendo construído.
Eu não ia entrar – apenas daria uma espiadinha pela fechadura – mas, alguma coisa saiu fora do planejado e assim que passei pelo portão da casa do Seu Nonô, tropecei numa pet, caí de cara numa caixa cheia de bandejas de isopor e ao tentar me levantar, esbarrei numa pilha de jornais e eles me encobriram.
A porta do barracão se abriu e várias pessoas saíram de dentro atraídas pelo barulho que eu fiz. Fiquei com medo, mas também não fui boba de sair correndo feito doida e revelar o meu esconderijo. O problema é que – com tanto jornal velho por cima – não conseguia ver direito o que acontecia: só ouvi passos se aproximando e luzes de lanterna varrendo o quintal de um lado a outro. E, quando parecia que seria descoberta, minha sorte mudou: um gato saltou por cima de mim direto para o muro. Isso fez os homens que saíram do barracão, falarem um palavrão diferente cada um e desistirem de procurar por mais intrusos.
Tenho certeza: eram as vozes do papai, do Seu Nonô e do vovô. Só uma outra voz, é que eu não reconheci… PISTA Nº 3: voz misteriosa.
Não quis dar sopa pro azar e saí dali o mais rápido que pude.
Assim que cheguei ao meu quarto, fui espiar pela janela esperando ver todos saírem do barracão (dali, eu podia ver tudo claramente, principalmente naquela noite de lua cheia), mas – para minha surpresa –, ouvi um HÔ HÔ HÔ (com aquela voz misteriosa) e pasmem, vi um trenó – sem renas –, mas carregado com muitos e muitos brinquedos e um Papai Noel e seu assistente (eu juro que era o Seu Nonô) dando tchau pra mim! O trenó voava numa velocidade incrível e assim que me virei pra chamar alguém, ele já havia sumido de vista.


O papai e o vovô estavam acabando de entrar em casa. E quando perguntei de onde eles vinham, me falaram que haviam acabado de deixar o Seu Nonô e o primo no aeroporto. Disseram-me que esse primo era esquisitão e, vivia com o Seu Nonô fazia algum tempo, mas que ninguém o conhecia direito, pois quase não saía de casa por causa do calor e ficava o tempo todo em frente do ventilador. Tinha se aposentado, mas gostou tanto dos brinquedos que o Seu Nonô fazia, que resolveu aprender a fazê-los também e agora ia voltar a trabalhar como antigamente, só que fazendo e distribuindo esses novos brinquedos sustentáveis. Além disso, como estava muito velhinho, levou o Seu Nonô para ajudá-lo.
Quando eu ia começar a falar que eu os havia visto no barracão, a mamãe e a minha irmã entraram na sala e, o papai e o vovô olharam pra mim e deram uma piscadinha… Nunca mais tocamos no assunto e esse é o nosso segredo até hoje!
Um dia tentei contar pra mamãe mas, ela disse que eu havia sonhado.
A única certeza é que o Seu Nonô se mudou naquela noite e deixou o barracão vazio. Só sobrou uma coisa na casa: o seu caderno de anotações com todos os brinquedos que ele criou e, com uma dedicatória para mim!
A-do-rei! Vou passar pra vocês aprenderem a fazer os enfeites de Natal (tem até um pra Páscoa) e os instrumentos musicais (pra vocês acompanharem o coral de família, que sempre se forma nessas noites!). Tchau.

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